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Foto do escritorPor Folha de Telêmaco

Bolsonaro vai ser preso? Brasil poderá ter derramamento de sangue por apoiadores de direita

Jair não tem um dia de paz no Brasil.

O ex-presidente Jair Messias Bolsonaro não tem vivido dias tranquilos recentemente. É cada vez maior o risco de acordar com batidas da Polícia Federal (PF) na porta de casa logo cedo, uma cena que infelizmente é comum na política brasileira e não deixa ninguém surpreso.


A lista de problemas para o político só aumenta. Nas últimas horas, tomou novas proporções: quebra de sigilo bancário dele e de Michele Bolsonaro, o anúncio de uma confissão de Mauro Cid, seu até então homem de confiança e as declarações do hacker Walter Delgatti na CPI de 8 de janeiro, em que acusa o ex-presidente de uma série de crimes contra o estado democrático de direito.


Sem contar que as coisas já não vinham bem há dias para o ex-presidente (que está inelegível). Mais desdobramento do caso das jóias vendidas ilegalmente, no maior estilo baixo nível, o ex-chefe da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Silvinei Vasquez, preso por suposto envolvimento em um esquema para tentar impedir eleitores do Nordeste de votar no segundo turno e o advogado da família Bolsonaro, Frederick Wassef, com celulares apreendidos. Mas vamos por partes.


Quem representa maior perigo ao ex-presidente, neste momento, é Mauro Cid, a pessoa que mais acompanhou os passos de Bolsonaro durante o governo - e até mesmo depois, indo para os Estados Unidos no avião da fuga em 30 de dezembro. Recentemente, a PF descobriu que na aeronave estavam jóias - que deveriam estar no acervo da presidência e não à caminho da terra do Mickey. Mauro Cid sabe mais do ex-chefe do que a própria esposa de Bolsonaro.


Se até então ele demonstrava ter uma enorme lealdade, tentar salvar a própria pele é a nova estratégia, confessando que vendeu as jóias a mando do ex-presidente, para o qual entregou o dinheiro. Eu duvidava que Cid confessaria.


Primeiro, pelo respeito à hierarquia militar. Segundo, por uma espécie de “código de honra” existente entre muitos criminosos. Porém, tudo indica que o tenente-coronel vai colocar “acima de tudo” a terceira palavra do lema bolsonarista: a família.


O passarinho vai cantar e, seguindo um rito da política brasileira, a Veja estampa na capa “A confissão”, com foto de Mauro Cid, devidamente fardado. Impossível não lembrar da emblemática edição de 1992, “Pedro Collor conta tudo”, que mexeu com a jovem República brasileira, reforçando que a imprensa tem papel importante na democracia. Não é por acaso que alguns políticos a odeiam tanto.

Os americanos, as contas bancárias e os celulares

Além da confissão de Cid e a quebra do sigilo bancário, a polícia fechou um acordo de colaboração com as autoridades americanas. É um reforço importante na investigação para descobrir o rastro das jóias e do dinheiro.


Falando em jóias, está na mira da PF Frederick Wassef, um dos advogados do clã Bolsonaro. Nesta semana, quatro celulares do profissional foram apreendidos. O conteúdo será analisado para descobrir se esteve envolvido no esquema de vendas. Até agora, a polícia já tem provas de que ele “recomprou” um Rolex do ex-presidente nos Estados Unidos.


O advogado parece não seguir os próprios conselhos profissionais advocatícios, já que mudou de versão sobre o Rolex pelo menos três vezes. Uma nota rápida e curiosa: não é a primeira vez que Wassef está no meio de rolos da família e muda versões. Em 2020, ele escondeu em sua casa o ex-assessor de Flávio Bolsonaro, investigado em um esquema de desvio de salários do filho 01. O esconderijo era no estilo bunker improvisado, com um colchão na parede.

“O hacker de Araraquara”

Como se não faltassem crimes para investigar, um depoimento na CPMI de 8 de janeiro, convocada pelos próprios bolsonaristas, aponta envolvimento direto do ex-presidente em crimes contra a democracia. Walter Delgatti, que parece ser o único hacker no Brasil, confessou que foi procurado para tentar provar que a urna brasileira poderia ser fraudada. Segundo o hacker, quem o procurou foi Carla Zambelli, uma das principais aliadas de Bolsonaro, a mando do próprio então presidente. Existem fotos e registros que comprovam um encontro de Delgatti com Bolsonaro.


Outro plano sem pé nem cabeça seria o de grampear o celular de Alexandre de Moraes com objetivo de ter “provas comprometedoras do magistrado”. “Xandão”, como é conhecido, já foi chamado “canalha” por Bolsonaro em plenas comemorações de 7 de setembro em 2020 para um público de milhares de pessoas.


O então chefe de estado ainda prometeu indultar o hacker, caso fosse preso. Não seria a primeira vez, já que Bolsonaro perdoou os crimes de outro parceiro, o deputado Daniel Silveira. O indulto está previsto na lei, mas foi a primeira vez em que foi utilizado para livrar da cadeia um amigo.


Ao meu ver, são crimes mais graves do que o trambique das jóias, já que teria consequências terríveis ao sistema político do Brasil e aos brasileiros. Por sorte, foram incompetentes ao bolar e executar os planos alucinados. A democracia esteve em risco, mas sobreviveu.

O dia “D”

Por falar em cadeia, o que todos querem saber é se Bolsonaro vai ser preso. Tudo indica que sim, em algum momento, mas não tão cedo. Diante das últimas notícias, o Brasil acordou hoje achando que seria o dia “D”, com os memes e figurinhas já prontos, uma especialidade brasileira reconhecida mundialmente. Mas não é essa a estratégia que se desenha.


Primeiro, que existem muitas provas para serem analisadas, especialmente com a quebra do sigilo bancário. A polícia vai levar um tempo para explorar todo o material, além de possivelmente convocar novos depoimentos.


O segundo ponto é que esse tipo de prisão precisa ser muito bem fundamentada. Claro que todas deveriam ser, mas como estamos falando de um ex-chefe de Estado, o cuidado precisa ser ainda maior. Não podem ser cometidos excessos no processo e Bolsonaro, como qualquer cidadão brasileiro, merece um tratamento justo, como prevê a lei.


O terceiro ponto é que demorar um tempo para a prisão é estratégico. Uma fonte que conhece bem como funciona esse tipo de investigação me disse que instalar o clima de desespero “vai gerando mais substância e mais informações”. Alexandre de Moraes não parece ter pressa, como um personagem de filme de terror que não corre atrás da vítima: anda lentamente porque sabe que vai alcançá-la.


Enquanto as várias investigações se desenrolam, a PF trabalhando mais do que na fase da Lava Jato e as farmácias de Brasília vendem muito ansiolíticos, os bolsonaristas que restam retomam o clima eleitoral. As conhecidas teorias conspiratórias xingam ministros do supremo e convocam apoiadores para ir às ruas, prometendo até um “derramamento de sangue” se for necessário.

Esperamos que não. O Brasil precisa de paz, mas parece que ainda não chegamos lá, infelizmente.

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